Pragmática E Contexto Uma Análise Da Abordagem De Cançado (2008)

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Olá, pessoal! Hoje vamos mergulhar em um tema super interessante da linguística: a pragmática! E não se assustem com o nome, porque vamos desmistificar tudo e mostrar como ela é fundamental para entendermos como a linguagem funciona no dia a dia. Conforme a renomada linguista Cançado (2008), a pragmática é o estudo de como a gramática, em sua totalidade, é utilizada em diferentes situações. Ou seja, não basta conhecer as regras da língua, é preciso entender como as pessoas as usam em contextos reais para se comunicarem de forma eficaz. Vamos explorar como podemos associar diferentes tipos de pronunciamentos aos contextos em que eles ocorrem, e como essa abordagem pragmática nos ajuda a desvendar as nuances da comunicação humana.

A Importância do Contexto na Pragmática

Para começarmos a entender a pragmática, é crucial que tenhamos em mente a importância do contexto. Imaginem a seguinte situação: alguém diz a frase “Está frio aqui”. Essa simples afirmação pode ter diferentes significados dependendo do contexto em que é proferida. Se estivermos em um ambiente com ar condicionado ligado no máximo, a pessoa pode estar sugerindo que alguém aumente a temperatura ou desligue o aparelho. Por outro lado, se estivermos ao ar livre em um dia de inverno, a mesma frase pode ser um simples comentário sobre o clima. Percebem como o contexto muda tudo?

A pragmática nos ensina que a linguagem não é apenas um conjunto de palavras e regras gramaticais, mas sim uma ferramenta que usamos para interagir uns com os outros. E essa interação é sempre influenciada pelo contexto. O contexto engloba uma série de fatores, como o ambiente físico, o conhecimento compartilhado entre os interlocutores, as suas intenções e expectativas, e até mesmo o seu histórico de relacionamento. Todos esses elementos contribuem para a interpretação de um enunciado.

A pragmática nos ajuda a ir além do significado literal das palavras. Ela nos permite entender as entrelinhas, as intenções implícitas e as mensagens subentendidas. Por exemplo, se alguém nos pergunta “Você pode me passar o sal?” em uma mesa de jantar, a resposta esperada não é simplesmente um “sim” ou “não”. O contexto nos indica que a pessoa está fazendo um pedido, e a resposta adequada seria passar o saleiro. Essa capacidade de interpretar a linguagem em seu contexto é essencial para a comunicação eficaz e para evitar mal-entendidos.

Outro aspecto importante do contexto é o conhecimento de mundo que compartilhamos. Muitas vezes, fazemos referência a informações que não estão explicitamente mencionadas na conversa, mas que são relevantes para a interpretação do que está sendo dito. Por exemplo, se alguém diz “A gasolina está um absurdo!”, a maioria das pessoas entenderá que a pessoa está se referindo ao aumento dos preços dos combustíveis, mesmo que isso não tenha sido explicitamente mencionado. Esse conhecimento compartilhado é fundamental para a comunicação e para a construção de significado.

Em resumo, o contexto é a chave para entendermos a pragmática. Ele nos ajuda a interpretar os enunciados de forma adequada, a identificar as intenções dos falantes e a construir significado em nossas interações comunicativas. Portanto, da próxima vez que vocês ouvirem algo, não se esqueçam de considerar o contexto!

Classes de Pronunciamentos e seus Contextos

Agora que entendemos a importância do contexto, vamos nos aprofundar nas classes de pronunciamentos e como elas se relacionam com os contextos em que são usadas. Os pronunciamentos, também chamados de atos de fala, são as ações que realizamos ao falar. Sim, isso mesmo! Quando falamos, não estamos apenas transmitindo informações, mas também realizando ações, como pedir, prometer, agradecer, ordenar, etc. A pragmática se interessa em analisar esses atos de fala e como eles são influenciados pelo contexto.

Existem diversas classificações de atos de fala, mas uma das mais conhecidas é a proposta por John Searle, que os divide em cinco categorias principais:

  1. Assertivos: São os atos de fala que expressam uma crença ou opinião sobre algo. Exemplos: “O céu está azul”, “Eu acho que vai chover”, “O Brasil é um país lindo”. Nesses casos, o falante está afirmando algo que acredita ser verdadeiro.
  2. Diretivos: São os atos de fala que visam fazer com que o ouvinte faça algo. Exemplos: “Feche a porta, por favor”, “Você pode me ajudar?”, “Não faça isso!”. Aqui, o falante está tentando influenciar o comportamento do ouvinte.
  3. Comissivos: São os atos de fala que comprometem o falante a realizar uma ação futura. Exemplos: “Eu prometo que vou te ligar”, “Eu vou pagar a conta”, “Eu juro que não fiz isso”. Nesses casos, o falante está assumindo um compromisso.
  4. Expressivos: São os atos de fala que expressam um estado psicológico do falante. Exemplos: “Que legal!”, “Meus pêsames”, “Parabéns!”. Aqui, o falante está demonstrando seus sentimentos e emoções.
  5. Declarativos: São os atos de fala que, ao serem proferidos, mudam o estado da realidade. Exemplos: “Eu os declaro casados”, “Você está demitido”, “Eu te batizo com o nome de…”. Nesses casos, o próprio ato de falar já produz um efeito na realidade.

Cada uma dessas classes de atos de fala está associada a diferentes contextos. Por exemplo, um ato de fala diretivo como “Feche a porta, por favor” é mais adequado em um contexto em que a pessoa tem autoridade para dar essa ordem, ou em um contexto de informalidade em que um pedido educado é apropriado. Já um ato de fala declarativo como “Eu os declaro casados” só pode ser realizado por uma pessoa com a autoridade legal para celebrar um casamento.

Entender a relação entre as classes de pronunciamentos e seus contextos é fundamental para uma comunicação eficaz. Se usarmos um ato de fala inadequado para o contexto, podemos gerar mal-entendidos, ofensas ou até mesmo o fracasso da comunicação. Por exemplo, imagine a seguinte situação: você está em uma reunião de trabalho e precisa pedir um favor ao seu chefe. Se você usar um tom imperativo e dizer “Faça isso agora!”, a reação do seu chefe provavelmente não será positiva. Um pedido educado e contextualizado seria muito mais eficaz.

Além disso, a pragmática nos ajuda a entender como os atos de fala podem ser realizados de forma indireta. Muitas vezes, não dizemos as coisas de forma explícita, mas sim através de pistas contextuais e inferências. Por exemplo, se alguém diz “Está muito quente aqui” em um ambiente fechado, pode estar implicitamente pedindo para alguém ligar o ar condicionado. Essa capacidade de entender os atos de fala indiretos é essencial para a comunicação e para a interpretação das intenções dos falantes.

Em resumo, as classes de pronunciamentos e seus contextos são elementos-chave da pragmática. Ao entendermos como os atos de fala são realizados e como eles se relacionam com o contexto, podemos nos comunicar de forma mais eficaz e evitar mal-entendidos. Então, fiquem ligados nos contextos e nos atos de fala que vocês usam!

A Pragmática e a Interpretação da Linguagem

Agora, vamos explorar um aspecto crucial da pragmática: a sua importância para a interpretação da linguagem. Como já vimos, a pragmática nos ajuda a ir além do significado literal das palavras e a entender as intenções dos falantes, as mensagens implícitas e as nuances da comunicação. Essa capacidade de interpretar a linguagem de forma pragmática é essencial para a nossa vida social e para a nossa interação com o mundo.

Imagine a seguinte situação: você está conversando com um amigo e ele diz “Eu estou sem dinheiro”. Essa simples frase pode ter diferentes interpretações dependendo do contexto. Se vocês estavam planejando sair para jantar, a frase pode ser um convite para que você pague a conta. Se vocês estavam falando sobre comprar um presente, a frase pode ser uma forma de dizer que ele não pode participar da compra. E se vocês estavam apenas conversando sobre o dia a dia, a frase pode ser uma simples constatação sobre a sua situação financeira.

A pragmática nos ajuda a desambiguar a linguagem. Muitas palavras e frases têm múltiplos significados, e o contexto é que nos ajuda a determinar qual deles é o mais adequado em uma determinada situação. Por exemplo, a palavra “banco” pode se referir a uma instituição financeira ou a um assento. O contexto da conversa é que nos dirá qual dos significados está sendo usado.

A pragmática também nos ajuda a lidar com a ironia e o sarcasmo. Essas figuras de linguagem são caracterizadas por dizer o oposto do que se quer dizer, e a interpretação correta depende da nossa capacidade de identificar as pistas contextuais que indicam que a pessoa não está falando sério. Por exemplo, se alguém diz “Que lindo!” sobre algo que obviamente é feio, a interpretação pragmática é que a pessoa está sendo irônica.

Além disso, a pragmática nos ajuda a entender as implicaturas conversacionais. Implicaturas são significados implícitos que são transmitidos através da conversa, mas que não são explicitamente expressos. Por exemplo, se alguém pergunta “Você sabe que horas são?” e a outra pessoa responde “Já passou das seis”, a resposta não é um simples “sim” ou “não”, mas sim uma informação sobre o horário que implica que a pessoa sabe que horas são. Essa capacidade de inferir as implicaturas é fundamental para a comunicação e para a interpretação das intenções dos falantes.

A pragmática também desempenha um papel importante na interpretação de textos escritos. Ao lermos um livro, um artigo ou um e-mail, precisamos levar em conta o contexto em que o texto foi produzido, as intenções do autor e o público-alvo. A pragmática nos ajuda a preencher as lacunas de informação que podem existir no texto e a construir uma interpretação coerente e significativa.

Em resumo, a pragmática é essencial para a interpretação da linguagem. Ela nos ajuda a entender as intenções dos falantes, a desambiguar a linguagem, a lidar com a ironia e o sarcasmo, a inferir as implicaturas e a interpretar textos escritos. Portanto, a pragmática é uma ferramenta poderosa para a nossa comunicação e para a nossa compreensão do mundo!

Cançado (2008) e a Pragmática Integral

Para finalizarmos nossa discussão sobre a pragmática, é fundamental retomarmos a referência à linguista Cançado (2008), que nos oferece uma perspectiva valiosa sobre o estudo da linguagem em contexto. Como mencionamos no início, Cançado define a pragmática como o estudo da maneira pela qual a gramática, em sua totalidade, é utilizada em diferentes situações. Essa visão abrangente da pragmática, que podemos chamar de pragmática integral, nos convida a considerar todos os aspectos da língua em sua interação com o contexto.

A pragmática integral proposta por Cançado não se limita a analisar os atos de fala ou as implicaturas conversacionais. Ela busca entender como a gramática, em seus diferentes níveis (fonologia, morfologia, sintaxe, semântica), é utilizada de forma estratégica pelos falantes para atingir seus objetivos comunicativos. Ou seja, a pragmática não é vista como um componente separado da gramática, mas sim como uma dimensão que permeia todos os níveis da língua.

Essa perspectiva integral da pragmática nos ajuda a entender como as escolhas gramaticais que fazemos ao falar ou escrever são influenciadas pelo contexto e pelas nossas intenções. Por exemplo, a escolha entre usar uma frase na voz ativa ou na voz passiva pode depender do que queremos enfatizar na nossa mensagem. Se queremos destacar o agente da ação, usamos a voz ativa (“O João comeu o bolo”). Se queremos destacar o objeto da ação, usamos a voz passiva (“O bolo foi comido pelo João”). Essa escolha gramatical tem um impacto pragmático na forma como a nossa mensagem é interpretada.

A pragmática integral também nos ajuda a entender como a linguagem se adapta a diferentes situações comunicativas. Em uma conversa informal com amigos, usamos uma linguagem mais relaxada e cheia de gírias. Em uma apresentação formal, usamos uma linguagem mais cuidada e precisa. Essa adaptação da linguagem ao contexto é um fenômeno pragmático que demonstra a nossa capacidade de usar a língua de forma flexível e estratégica.

Além disso, a pragmática integral nos convida a considerar a variação linguística como um fenômeno pragmático. As diferentes formas de falar que existem em uma língua não são apenas variações gramaticais, mas também expressões de identidade social e cultural. A forma como falamos pode indicar a nossa origem geográfica, a nossa classe social, o nosso nível de escolaridade e outros aspectos da nossa identidade. Essa dimensão social da linguagem é fundamental para a pragmática integral.

Em resumo, a perspectiva de Cançado (2008) sobre a pragmática nos oferece uma visão abrangente e integrada do estudo da linguagem em contexto. A pragmática integral nos convida a considerar todos os aspectos da língua em sua interação com o contexto, desde as escolhas gramaticais até a variação linguística. Essa abordagem pragmática nos ajuda a entender a complexidade e a riqueza da comunicação humana!

Espero que tenham gostado dessa nossa jornada pelo mundo da pragmática! Lembrem-se: a linguagem é muito mais do que um conjunto de regras gramaticais. Ela é uma ferramenta poderosa que usamos para interagir uns com os outros, construir significado e expressar nossas identidades. E a pragmática é a chave para entendermos como essa ferramenta funciona em toda a sua complexidade.